quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Tristeza de uma retirante

os retirantes - cândido portinari
Tristeza de uma retirante

Clicia Pavan

É de fome, seca e tristeza seu moço, meu destino de retirante.Sai à procura de água, era eu e Maria e as cabaças nas nossas cabeças.A Maria, tadinha, fraquejou e pra traz ficou... Ficou eu moço, e minhas duas cabaças procurando água, Ah! Moço, dá dó ver a terra seca, rachada que nem meus pés.Minhas cabras, tadinhas, de fome se foram..Moço, eu conheço cada palmo deste chão aqui nasci,aqui me criei meu pai só queria um palmo de chão para semear e os filhos criar.Minha mãe, mulher rendeira e parideira, de tanto olhar o sol, cega ficou.Ah! Moço, a terra prometida, fica a muitas léguas daqui.Moço, do outro lado da seca, está a água que mata a minha sede, sede que só o céu sabe ter eu vivido.De tanto olhar o sol a procura da chuva, o juízo perdi...Sem lágrimas nos meus olhos, como que tecendo renda.Sigo minha maldição, a fome a seca do meu sertão.A seca do meu coração, o descaso...o abandono.

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