sexta-feira, 18 de abril de 2008

DIA DO ÍNDIO, O NOSSO DIA!

foto Antonio Vargas
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Por algum motivo o homem branco, criou nesse 19 de Abril, o Dia do Índio que antes se reduzia a churrascos as aldeias oferecido pelos governantes ou fazendeiros vizinhos, mas que agora nesses novos tempos, torna-se um referencial de resistência indígena, conscientização e afirmação.


Trata-se de um dia, que se transforma em semana para o eco de povos mudos ao longo da história e agora, construtores de um novo diálogo com o mundo do homem branco, retomando sua própria voz onde o antigo intermediário e o especialista em índio, passa a ser aquele que errando ou acertando, estabeleceu etapas de um sistema governamental de proteção ao índio.


Talvez devêssemos lembrar a personalidade do remanescente Bororo/Terena, Cândido Mariano da Silva Rondon e seu lema: morrer se preciso, matar nunca, ou dos irmãos Vilas Boas, quando concentraram seus trabalhos em pleno oeste do Brasil, e seu ideal de transformar o Parque Indígena do Xingu, num verdadeiro oásis da diversidade étnica, mesmo que para isso transportasse inúmeros povos alguns até mesmo inimigos entre si, para a convivência “pacifica” da política indigenista, sem falar no perfil antropológico de Darcy Ribeiro, e seu sonho de Maíra, quando em tempos outros, ainda jovem definira um futuro de desaparecimento dos povos indígenas através do que chamava “fricção cultural” e mais recentemente, da visão paternalista e assistencialista das política publicas, ao criar até mesmo juridicamente, a figura do tutor e do tutelado.


Nesse dia 19 de abril de 2008, quando pensávamos que o conceito preconceito de considerar as terras indígenas como risco à soberania nacional já tivesse sido enterrado de vez, tal como a febre amarela e sua erradicação, surgem vozes quase em uníssono contra a demarcação das terras, utilizando velhas táticas de dominação inter-étnica africana e da centro-américa, dividindo até mesmo povos irmãos, na busca do bem comum.


Dentro de Brasília, de acordo com a espiritualidade indígena tradicional, ao meio-dia, 120 indígenas de seis povos farão uma celebração com suas crianças e líderes espirituais, como um Quarup por todas as crianças indígenas que morreram por falta de comida nos últimos 15 meses. Não se trata apenas de um protesto, mas de respeito pelo futuro abortado em nome da nova civilização numa demonstração clara da impotência do poder público e da necessidade de reorganização estratégica dos movimentos indígenas diante da ameaça que paira sobre nossos direitos como indígenas, principalmente sobre a terra.


Nesse 19 de abril também, precisamos recordar que os povos indígenas sempre foram baloartes do equilíbrio e do desenvolvimento social com respeito ecológico. Desde a chegada dos invasores portugueses, nossos ancestrais foram sábios e solidários para povos sem terras e carentes de novos membros as suas religiões. Em passado mais recente, exatamente num 19 de abril, Felipe Camarão, guerreiro e líder dos indígenas que habitavam Olinda e Recife, foram acionados para defender o Brasil contra os Holandeses, estabelecendo o primeiro acordo militar com as forças armadas brasileiras, que depois viria a se repetir com Caxias na Guerra do Paraguai, na IIª Guerra Mundial, Guerra dos Farrapos e até hoje, com a inclusião de indígenas militares para adestramento do homem branco em sobrevivência na selva amazônica ou no Haiti como membros da Força de Paz da ONU.


A Soberania de um País nasce com seu Povo e nós como indígenas e natos dessas terras, sempre primamos pelo bem estar alimentar, ambiental, pela paz e pelo respeito entre os diferentes e inclusive pelos mais fracos.
Por isso, ao pôr do sol desse 19 de Abril ao ouvirmos em Brasília, na sede do Memorial dos Povos Indígenas os acordes de O Guarani, os Povos Indígenas participantes da Semana dos Povos Indígenas-2008, apagarão a chama do Fogo Sagrado que mostrou expôs preconceitos ainda arraigados do homem branco que jamais amou esse Brasil, como nós indígenas sempre fizemos, para assegurar o melhor para as novas gerações, inclusive filhos de nossa nova geração.


Amar o Brasil, é amar seu povo e sua terra, inclusive indigena!


Marcos Terena

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